Balneário de luxo no passado, Guarujá mostra que está pronto para ser redescoberto


Poucos sabem, mas a geografia do Guarujá segue o contorno de um dragão. No 'rabo', faixas de areias claras e mar azulado atraem visitantes mais alternativos; o centro, na 'barriga' do ser mitológico, é o cenário das extensas faixas de areia com a maior concentração de visitantes e da badalação noturna esquentada pelo 'fogo do dragão'; e na 'cabeça', pequenas praias desertas que, até pouco tempo, eram desconhecidas pelos próprios moradores locais.

O que todo mundo já sabe é que a Pérola do Atlântico, balneário de luxo dos anos 1960 e 1970, viu seu público rumar para as praias das águas claras do norte do Estado. O comércio local e os profissionais da área do turismo sentiram no bolso, nos últimos anos, a falta de investimento e o surgimento dos problemas sociais típicos das grandes cidades.

No entanto, o dragão é persistente e se alimenta de desafios. Por isso, a orla central foi repaginada e recebeu novos estabelecimentos comerciais atraídos pelas políticas locais de incentivo; quiosqueiros receberam cursos de capacitação para o manuseio de alimentos ao ar livre; as praias ganharam novos acessos com a reformulação da estrutura viária; os investimentos do setor de saneamento básico elevaram o grau de balneabilidade das praias; e eventos garantem entretenimento durante o ano inteiro, como os festivais de jazz e de gastronomia que ocorrem fora da temporada.

E mesmo com a retomada do turismo na ilha de Santo Amaro, onde se localiza o Guarujá, algumas pérolas da região continuam quase intocadas como na época em que a armada de Américo Vespúcio ancorou suas embarcações na então ilha de Guaíbe. Nem os condomínios de luxo e as imponentes embarcações das marinas locais conseguiram contaminar os ares rústicos de paraísos guarujaenses de certos vilarejos de pescadores.

Não se pode negar que a melhor estrutura ainda está na orla central da ilha, com variada oferta de restaurantes, bares e casas noturnas badaladas. Mas tudo isso, São Paulo também tem, e muito. Quem desce a serra para (re)descobrir o Guarujá começa a seguir as placas que indicam os atrativos naturais da extremidade leste do 'rabo' do dragão.

A Praia Branca é uma antiga colônia de pescadores que segue em um ritmo alheio ao que acontece no resto da ilha. Ao lado da balsa que dá acesso à vizinha Bertioga, a vegetação densa da Serra do Guararú guarda uma trilha de pedra que leva pescadores e visitantes descolados a um dos lugares mais inusitados da região.

As residências e os pequenos estabelecimentos hoteleiros simples do vilarejo destoam da imponência de alguns casarões luxuosos da estrada Guarujá-Bertioga. E é aí que a natureza deixa de ser pretexto para explorar o turista e passa a ser explorada pelos visitantes.

O caminho é longo e, às vezes, escorregadio, mas o visual que se abre ao final compensa. À esquerda, ondas fortes são o paraíso de surfistas e valentes nadadores; à direita, o mar calmo banha a Ilha da Prainha que, na maré baixa, pode ser alcançada a pé. E como os opostos se atraem, o movimento marinho não pára e as águas se encontram com as areias da Praia Preta, uma das mais belas e isoladas da Ilha de Santo Amaro.

E por falar em paraíso, e para não favorecer um único membro do dragão, a Praia do Éden faz jus ao nome. Com apenas 100 metros de extensão, e localizada no trecho que poderíamos classificá-lo como a 'pata' do animal mitológico, é outra surpresa do Guarujá. Nem a trilha íngreme pela Mata Atlântica, que se inicia em uma área de condomínio fechado, é capaz de tirar o humor do aventureiro que chega às águas esverdeadas do Éden.

No mais, tudo segue bem. Muito bem, diga-se de passagem. Fortes e fortalezas ainda contam suas histórias; trilhas dão passagens aos mais dispostos em conhecer a região sob outro ponto de vista; esportes elevam a adrenalina dos aventureiros e o dragão continua mais ativo do que nunca.

Fonte: Uol Viagem

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