Turismo norte-americano no horizonte cubano

O cubano Manuel esfrega as mãos só de pensar. “Tenho quase terminado um quarto para alugar quando começarem a chegar os turistas do Norte”, diz sem sinal algum de dúvida.

“Não há hoteis suficientes para tanta gente que virá de lá”. Ele trabalhou no setor turístico até que decidiu dedicar-se apenas ao trabalho de encanador por conta própria. Agora renovou suas esperanças na eventual bonança que chegaria dos Estados Unidos se for aprovada uma lei para acabar com a proibição de viajar para Cuba que existe para os cidadãos norte-americanos.

A imprensa oficial cubana divulgou de forma discreta a notícia de que o Comitê de Agricultura da Câmara de Representantes dos Estados Unidos votou, no dia 30 de junho, a favor de um projeto de lei que também permitiria elevar as exportações agrícolas para Cuba. A tentativa legislativa não é nova, embora alguns analistas acreditem que desta vez as possibilidades de ir adiante são maiores. A indústria turística cubana alimenta expectativas de crescer nos próximos anos, operadores norte-americanos estão alertas e a dissidência cubana adota posições divididas.

“É preciso ir desbaratando as ações oficiais que justificam o imobilismo”, disse à IPS o dissidente moderado Manuel Cuesta, um dos 74 opositores que assinaram uma carta de apoio à lei em discussão, seguida de uma mensagem de rejeição assinada por cerca de 400 ex-presos. O texto agora deve passar pelos Comitês de Relações Exteriores e de Finanças, antes de chegar ao plenário da Câmara de Representantes e depois ao Senado, onde desde já se prevê a oposição do líder da maioria, Harry Reid, e do democrata Robert Menéndez.

“Menéndez disse, no dia 30, que se a iniciativa chegar ao Senado ele vai bloquear. As regras permitem que um único senador tranque um projeto se assim desejar”, disse à IPS o advogado cubano-norte-americano José Pertierra, que vê o assunto com ceticismo. Para o acadêmico da Universidade de Harvard, Jorge Dominguez, as viagens de norte-americanos para Cuba são um assunto complexo, que exige uma votação do Congresso e exclui o presidente da decisão.

O presidente Barack Obama “pode mudar dez mil coisas mediante exceções da lei” que determina o bloqueio econômico a Cuba, mas não pode agir neste caso das viagens de cidadãos dos Estados Unidos para Cuba, disse à IPS o especialista em assuntos latino-americanos em recente visita a Havana. Já os otimistas se baseiam no fato de o projeto de lei de Impulso das Exportações e Reforma das Restrições de Viagens incluir facilitação do pagamento das vendas de produtos agrícolas a empresas norte-americanas interessadas em aumentar o comércio com esta ilha, que já é permitido desde 2002, apesar do embargo.

O texto, patrocinado por 62 membros do Congresso, elimina a disposição que determina o pagamento à vista e antecipado destas vendas e permite transferências diretas entre instituições financeiras das duas nações. Omar Everleny Pérez Villanueva, pesquisador do Centro de Estudos da Economia Cubana da Universidade de Havana, não duvida de que uma abertura do turismo norte-americano seria transcendental pelo efeito dominó que traria à economia deste país.

Segundo suas contas, abrir este turismo levará ao uso de cartões de crédito e nada poderá impedir que a renda obtida nos Estados Unidos seja entregue ao governo cubano ou às empresas e entidades que tomarem parte nessas operações. Também seria preciso liberalizar o setor de seguros e regularizar o transporte, que até agora é feito por voos charter. “Em um prazo de dois meses teria de ser desmontada toda uma série de coisas que freiam o desenvolvimento normal de uma economia”, disse o acadêmico a um fórum organizado pela Igreja Católica.

Segundo suas estimativas, dos Estados Unidos poderiam chegar um milhão de turistas no primeiro ano, quantidade que aumentaria quando estiverem funcionando bem os mecanismos de transporte, seguros e qualidade dos serviços. Esse cálculo não difere muito do da Associação Norte-Americana de Agências de Viagens, de que dois anos depois de levantada a proibição, cerca de 850 mil norte-americanos viajariam a Cuba para hospedar-se em hoteis, e mais meio milhão o fariam em cruzeiros.

As autoridades do setor dizem que este país de regime socialista e economia centralizada tem “garantido” o que é preciso para operar com qualidade e está em marcha um plano de investimentos para aumentar o conforto, com 50 mil quartos que dão a Cuba capacidade para receber mais visitantes. Manuel, no entanto, espera obter a licença para alugar um quarto, em moeda dura, para os “yuma” (norte-americanos, em jargão popular) que, segundo ele, chegarão em massa para comer a fruta há tanto tempo proibida. “Tudo ao seu tempo, quando começarem a vir, tirarei as autorizações”, afirmou.

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